João Paulo Fiuza, CEO da plataforma One7, viu na pandemia a oportunidade para acelerar o crescimento da operação e investir mais no bem-estar dos colaboradores
“Valorizo a prática da autonomia e da confiança do meu time como fatores-chave de uma relação respeitosa, que reconhece a busca constante pelo desenvolvimento e que tem muita clareza em relação às entregas e ao desempenho, sem sobrepor princípios e valores inegociáveis”
A cidade de Tatuí, no interior de São Paulo, é o endereço de uma história recente e de resultados interessantíssimos no mercado de serviços financeiros. Foi no município de pouco mais de 120 mil habitantes que, em 2018, dois jovens empresários resolveram se unir para criar a plataforma One7.
João Paulo Fiuza uniu forças e ideias ao amigo e sócio, Everaldo Moreira. Juntos, estão em pleno voo de um player que cresce a cada dia. Até aquisições já foram feitas neste curto espaço de tempo. Tudo no mundo virtual é rápido. O bom desempenho da One7 também é.
Em 2020, a One7 adquiriu o controle da fintech Rapidoo, voltada para crédito de pequenas e médias empresas. A operação envolveu um funding (captação de recursos para investimento) de R$50 milhões. A estratégia aprimorou o processo de digitalização e vai permitir a expansão nacional de maneira mais rápida. No fim do ano, lançou a toazul, que oficializou a One7 no mercado de crédito consignado.
Inicialmente, a companhia destinou R$100 milhões à modalidade, e a expectativa é alcançar mais de 500 empresas até o final de 2021 e mais de 100 mil colaboradores elegíveis ao crédito consignado privado. As parcelas desse tipo de crédito são debitadas diretamente da folha de pagamento dos funcionários, o que possibilita menor inadimplência dos contratantes e taxas reduzidas por parte da toazul.
O CEO dessa empreitada veio de uma família tradicional do setor de agronegócios. Fiuza – formado em administração pela PUC-SP – desbravou sua própria carreira e cedo já entrou para o mercado de investimentos fazendo negócios com empresários da região. Aos poucos, foi ganhando credibilidade perante os investidores e se tornou nome forte na One7.
“A Rapidoo trouxe à proposta da One7 a possibilidade de ampliar não apenas a atuação de público no mercado, mas também a chance de expandir digitalmente o alcance da empresa em todo o Brasil”
A ONE7 EM NÚMEROS:
Funcionários: 140
Tempo de atuação no mercado: mais de 20 anos
Número de produtos oferecidos: crédito consignado privado (toazul); antecipação de recebíveis para MPEs (Rapidoo) e antecipação de recebíveis para PMEs e Operações estruturadas (One7)
Base de clientes: 8 mil clientes/cedentes e aproximadamente 350 mil sacados
Casado, pai de dois filhos e amante da corrida nas horas vagas, Fiuza tem apostado em um estilo de liderança mais moderno e assertivo. Ele diz que a pandemia fez com que os CEOs ficassem mais presentes na rotina das equipes. Por conta disso, o papel deles mudou e a forma de se apresentar também.
Impulsionado pela pandemia, implantou uma metodologia de trabalho mais ágil focada em resultados a curto prazo. Dessa forma, a empresa cria objetivos macros que são desdobrados em ações práticas com resultados tangíveis em um pequeno espaço de tempo. Resultado: das 140 propostas aceitas, 78% delas foram atingidas.
Nesta entrevista inspiradora à Gestão & Negócios, Fiuza destaca o papel da autonomia e da liberdade de decisões que sempre buscou na carreira e revela que o sucesso nos projetos de um empreendedor está ligado diretamente à constante transformação à qual a pessoa se submete.
Gestão&Negócios: Em qual momento da vida, você percebeu que partiria para o empreendedorismo?
João Paulo Fiuza: O espírito empreendedor sempre esteve presente na minha vida. Desde muito jovem, busquei algo que pudesse impactar de forma significativa e positiva muitas pessoas, e o empreendedorismo foi o meio para que isso acontecesse de forma prática na minha vida. Também sempre valorizei a autonomia e a liberdade de decisões, fator que contribuiu para essa decisão de vida, não apenas de carreira. Eu comecei empreendendo porque vi a possibilidade de traçar um caminho originalmente capaz de gerar um legado e que eu pudesse trabalhar prazerosamente em função de um propósito.
A One7 faz parte de sua história no mundo dos negócios. Em quais momentos dessa relação tão próxima você percebeu que ela decolaria?
O fato de a One7 reunir uma combinação de fatores extremamente favoráveis em termos de vantagem competitiva, como nicho promissor, alto poder de escalabilidade de mercado, oportunidades de expansão, cultura forte das pessoas que estão no negócio, engajamento genuíno e muita vontade de “fazer acontecer”, certamente me fizeram perceber o potencial de “decolagem”.
A compra da Rapidoo chegou para ampliar as possibilidades da plataforma. Como foi essa negociação e quais características da Rapidoo foram mantidas após a incorporação?
A Rapidoo trouxe à proposta da One7 a possibilidade de ampliar não apenas a atuação de público no mercado, mas também a possibilidade de expandir digitalmente o alcance da empresa em todo o Brasil. A negociação com a fintech aconteceu na mesma velocidade que a oportunidade exigia, sendo que a incorporação considerou o “core” digital das transações, além de ampliar as possibilidades de oferta de serviços ainda mais abrangentes para o público de ambas as marcas.
A toazul tem atingido os resultados esperados? Quanto essa linha de crédito representa na movimentação de todas as operações?
Uma das propostas da linha de crédito consignado privado da One7 batizada de toazul é levar educação financeira aos contratantes, além do dinheiro em si, ou, até mesmo, a possibilidade de acesso a esse crédito. A linha de negócio pode representar até 15% das operações da One7 e tem um potencial de mercado que transcende o ganho financeiro da plataforma.
A pandemia foi traumática para muitos empreendedores, mas para você o cenário – aparentemente – foi outro. Qual foi sua estratégia de enfrentamento da crise e quais pilares sustentam essa estratégia?
Os pilares de autonomia e confiança de todas as empresas nesse momento foram colocados à prova. Na One7 não foi diferente e foi “aí” que tivemos a certeza de que os nossos eram muito sólidos, além do poder de entrega das nossas pessoas, do preparo da nossa estrutura tecnológica e da robustez dos nossos negócios. Nesse contexto, a execução de uma estratégia assertiva para trafegar em um cenário pandêmico foi mais bem-sucedida.
A busca por resultados mais imediatos tornou-se uma necessidade de muitas empresas, afinal está cada vez mais difícil saber como será o futuro. Como você implementou esse raciocínio dentro do negócio?
Implementamos esse raciocínio por meio da mudança rápida do modelo de planejamento na One7, antes BSC (Balanced Scorecard) para OKR (metodologia baseada em “objectives, key and results”), o que favoreceu o ganho de velocidade nas ações e métricas mais claras e factíveis, acelerando de forma segura todas as decisões e fazendo com que pudéssemos enxergar grandes oportunidades. Antes dessa mudança, trabalhávamos com metas de médio prazo (cerca de 12 meses), o que se mostrou um formato inviável para as mudanças e decisões rápidas que deveríamos tomar daquele momento em diante. Foi a partir de então que nossos principais resultados passaram a ser acompanhados dentro de um framework mais dinâmico.
Como você caracteriza seu estilo de liderança?
Valorizo a prática da autonomia e da confiança do meu time como fatores-chave de uma relação respeitosa, que reconhece a busca constante pelo desenvolvimento e que tem muita clareza em relação às entregas e ao desempenho, sem sobrepor princípios e valores inegociáveis.
Quais os prós e os contras desse modelo?
Como fatores positivos, entendo que o time se fortaleça ao se sentir mais livre para contribuir, dar ideias, trocar opiniões e falar sobre o que pode fazer a diferença no dia a dia, além de se sentir mais pertencente ao grupo, à empresa e a um propósito comum. Já como ponto negativo desse estilo, sinto que pode haver uma tendência protecionista das pessoas que trabalham comigo, já que confio muito em todas elas.
A pandemia reforçou uma busca – que estava em crescimento – pela qualidade de vida no ambiente de trabalho. Qual sua postura em relação a isso e como coloca em prática no dia a dia da operação?
A manutenção do bem-estar dos profissionais sempre foi pauta recorrente na One7. Com a pandemia, aceleramos os projetos com esse viés, como um programa chamado “One7 health”, que promove ainda mais atividades físicas, oferece suporte nutricional e estimula o autocuidado mental. Também em busca de um sentimento de conforto físico e emocional, entregamos aos colaboradores, em suas residências, equipamentos básicos de escritório e cadeiras ergonômicas, para que possam atuar da melhor forma de onde estão.
Os ensinamentos de quem “já viveu” são sempre valiosos. Quais lições sua trajetória permite passar adiante para quem está começando a empreender no ambiente digital?
Independentemente do digital, a busca incessante por conhecimento, que se transforma em uma velocidade cada dia mais acelerada, a atitude empreendedora (curiosidade e busca por novas soluções), além de muito planejamento, paixão pelo que faz, são fundamentais. Também é importante não se vitimizar diante das circunstâncias e manter uma postura positiva e otimista para seguir em diferentes cenários.
Como você enxerga a One7 daqui a dez anos?
O sonho é muito grande e acredito que estamos apenas nos primeiros capítulos de tudo que ainda está para acontecer. Por isso, em dez anos, vejo a empresa com um legado que terei muito orgulho de representar.
E você, enquanto líder, como se enxerga na próxima década?
Ainda mais desafiado e provocado todos os dias, aprendendo mais coisas novas. Um empresário em constante transformação.
*entrevista realizada pela revista Gestão&Negócios PME, texto de Marcelo Casagrande
Foto feita por: Pitti Reali