Vicente Gueraldi*
O dia de amanhã ninguém sabe como será – entretanto, há indicadores “quentes” que revelam como as fintechs de crédito devem responder quando o tema é a concessão de recursos em um cenário de aumento dos juros. Isso porque as sucessivas elevações da Selic, hoje em 12,75% ao ano, tendem a incrementar também as taxas repassadas ao cliente final nas concessões de crédito, seja para pessoa física ou para pessoa jurídica.
Além do aumento na própria taxa das operações, é esperado que em um movimento de elevação de juros, o provisionamento para devedores também aumente – já que há um maior compromisso da renda dos indivíduos, assim como no faturamento das empresas que não é transferida na mesma velocidade aos seus fornecedores, impactando desta forma em um maior custo financeiro ao tomador final.
As fintechs cresceram muito nos tempos de juros baixos, mas agora o “jogo virou”. Em 2021, em um cenário no qual a economia se apresentava represada em função da pandemia, o PIB do Brasil foi de R$ 8,7 tri – o que representou crescimento de 4,6% quando comparado ao exercício anterior.
Em 2022, ano eleitoral com ambiente desafiador, tendo IPCA de março cravado em 1,62%, e projeção do PIB para este ano de 0,65% (conforme relatório de mercado Focus, publicado em 24/4), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) elevou a estimativa da expansão de crédito bancário para 8,3%. E, ao ampliarmos a perspectiva de crédito por meio de créditos alternativos e securitização originados pelos FIDCs, a previsão da expansão de oferta de crédito tende a ultrapassar dois dígitos de crescimento nesta modalidade.
Há uma outra variável: a inadimplência. Com tendência natural de aumento acompanhando o incremento na taxa de juros, pois com os juros mais elevados os tomadores também demandam mais empréstimos. Assim, com empresas carentes e maior necessidade de capital de juros, as despesas financeiras aumentam.
Concluindo, como ficam as fintechs nesse cenário desafiador? Pois bem, desafios não faltarão a cada uma delas. E são eles:
1. Realizar análise de crédito com agilidade, buscando melhor eficiência na assimetria de informação com consistência e definição de limite de crédito, prazo e taxa condizentes a cada tomador de recurso, com embasamento em rating/behaviour score;
2. Monitorar a carteira de crédito próximo aos tomadores com inputs de variáveis endógenas de forma arbitrária e sólido “tracking record” de dados estatísticos que tenham a finalidade de antecipar possíveis eventos através de liquidação de crédito antes do vencimento, mitigando movimentos inesperados de inadimplência – passíveis, por exemplo, da elevada taxa de juros e/ou inflação; e
3. Fazer constante investimento em tecnologia para estar sempre a frente no ambiente digital, em especial focado no mercado de crédito para empresas e pessoas físicas.
Seguramente as fintechs que tiverem governança instalada com, por exemplo, políticas de crédito, precificação calibrada e que suporte eventuais “defaults”, processos definidos adequados – capazes de viabilizar o crescimento orgânico e consistente da carteira de crédito, não abdicando a pulverização das operações, seja sob o ângulo do tomador ou do devedor -, estarão mais fortalecidas com o término do período de variação das taxas baixas, e estarão bem posicionadas no cenário de juros e inflação elevados.
*Diretor de Relações com Investidores na One7
**Para acessar a matéria publicada no site Fintechs Brasil em Maio/2022. Clique aqui.